Cachoeira troca defesa por declaração de amor

26/07/2012 11:35

 

Depoimento de Carlos Cachoeira surpreende o juiz, que alerta que a audiência não é local apropriado para isso. "Queria fazer essa declaração em público" -  retrucou o bicheiro, arrancando risos da plateia.

Preso desde 29 de fevereiro, o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, recusou-se a responder sobre as acusações de corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha que pesam contra si. Num depoimento de 13 minutos ao juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal em Goiânia (GO), Cachoeira limitou-se a reclamar das decisões judiciais que, segundo diz, o transformaram em um leproso judiciário.

Aparentemente indiferente à gravidade das denúncias e à liturgia do tribunal, Cachoeira quebrou o protocolo e, na frente de juiz, procuradores da República e advogados, voltou-se para a plateia, fez declaração de amor e até prometeu se casar com a namorada Andressa Mendonça, assim que sair da cadeia.

- Ela me deu uma nova vida. Eu te amo - disse Cachoeira, dando às costas ao juiz.

- Eu também te amo - respondeu Andressa, sentada em uma das primeiras fileiras do auditório.

Surpreso com o desembaraço do réu, o juiz tentou interceder dizendo que o local não era apropriado para aquele tipo de conversa. Mas Cachoeira não se deu por vencido:

- Queria fazer essa declaração em público - retrucou o bicheiro, arrancando risos da plateia.

O registro da inesperada situação está sendo feito hoje (26) no jornal O Globo, em matéria assinada pelos jornalistas Jailton de Carvalho e Vinicius Sassine.

O tom cômico e românico contrastou com a ideia difundida por advogados de que Cachoeira "está em depressão" e que não poderia prestar depoimento à Justiça Federal. Só mudou de tom quando foi indagado sobre as denúncias de corrupção:subornar policiais civis, militares e federais, para explorar jogos ilegais em Goiás, principalmente no entorno do DF.

- Não quero responder - afirmou o bicheiro.

Antes, Cachoeira já tinha se recusado a dizer em que trabalhava. Diante da decisão do bicheiro de não rebater as acusações, o juiz franqueou a palavra para que falasse livremente. O contraventor fez, então, a declaração de amor à namorada e se pôs no papel de vítima.

- Hoje estou sofrendo demais porque eu virei um leproso jurídico. Um dia vão saber quem eu sou.

Os outros seis acusados de integrar o núcleo central da organização criminosa também se recusaram a responder as perguntas de Rocha Santos e adotaram a estratégia do silêncio.

Antes de Cachoeira, o juiz interrogou Lenine Araújo, Wladmir Garcez e Gleyb Ferreira, acusados de integrar o núcleo central da organização do bicheiro. Gleyb Ferreira chorou durante o depoimento e disse que queria colaborar, mas criticou a acusação do MPF.

- Não há justiça dentro da Justiça. Cheguei até aqui porque tenho uma amizade pública com uma pessoa - disse Gleyb, apontado pela PF como braço-direito do bicheiro.

Gleyb e Cachoeira permanecem presos. Os advogados do bicheiro acreditam que, em breve, seu cliente deve sair da prisão. O contraventor está preso desde a deflagração da Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro.


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